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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Libertem os desaparecidos

Chega a ser caricato como o assunto dos "desaparecidos" da ditadura é encarado de forma espinhosa por setores da sociedade brasileira, em especial pelos militares. Passados mais de 45 anos do Golpe Militar de 1964, todos ficam cheios de dedos para abordar o tema. Os generais querem passar logo uma borracha nesse assunto e as lideranças civis agem com cautela para não incomodarem os militares. Mas incomodar a quem, afinal? Os torturadores e assassinos se valem justamente desse escudo que as Forças Armadas indiretamente criaram, ao rotular qualquer pesquisa ou divulgação sobre os "desaparecidos" como "revanchismo". Não se trata de revanchismo, vingança, troco ou qualquer outra palavra que queira insinuar represália. É uma página da história do país que tem de ser escrita corretamente para que qualquer sentimento de revanche se esvaia. Além de ser um direito inquestionável dos familiares dos mortos, a verdade é a única via para tentar vencer os fantasmas do passado.

É a forma de fechar as tais cicatrizes abertas do passado. Recorro a este termo porque assisti recentemente a "Domingo Sangrento". O telefilme retrata o dia em que as tropas britânicas abriram fogo e promoveram uma verdadeira execução de manifestantes pelos direitos civis na Irlanda do Norte, em 1972 – foram 14 mortos. O mais interessante é que a produção foi idealizada justamente por dois britânicos, entre eles o diretor Paul Greengrass. Interessante porque os britânicos por anos tentaram e se esforçaram para esquecer do assunto. Mas os irlandeses sempre o lembram. A iniciativa dos britânicos não deixa de ser um passo exemplar para fechar as tais cicatrizes. Mais emblemático ainda, porém, foi, em junho do ano passado, o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, após novo relatório sobre o Domingo Sangrento, admitir o erro do governo e pedir desculpas publicamente pelo incidente.

Uma postura elogiável do chefe de estado e que deveria ser exemplar. Reconhecer o erro e pedir desculpas vai trazer os 14 mortos de Belfast de volta? Claro que não. Mas é um gesto que pode evitar episódios iguais no futuro, que pode mostrar a importância da tolerância e que pode minimizar a angústia dos familiares das vítimas. Já que seguimos tantos exemplos de nações desenvolvidas... Reportagem da "Folha", inclusive, diz que a nova presidente Dilma Roussef deve pedir desculpas pelas atrocidades cometidas durante a repressão militar. O que não deixa de ser inusitado, já que Dilma foi uma das que sofreu na pele a repressão. Mas é preciso ir além. Abrir os arquivos e contar a verdade, como pede a ação da seção Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ): "Campanha pela Memória e pela Verdade".

Enquanto isso, o general José Elito de Carvalho Siqueira, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), levou um puxão de orelha da presidente após afirmar recentemente que é preciso esquecer o passado e olhar para a frente ao abordar o tema dos "desaparecidos". Só que com as cicatrizes abertas no passado, não é possível seguir em frente general. A história (dos outros países) já nos ensinou isso.

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Um comentário:

  1. Mira!!! Parabéns pelo blog! É mto legal ver pessoas de conteúdo compartihando suas ideias. Beijos em vc e na família! Sucesso! =)

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