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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O Diabo no corpo de Mr. Chávez


Sempre desconfiei da "demonização" gratuita do Hugo Chávez. Não que eu o ache um santo. Vejo nele um caudilho com uma aura militarista que me deixa receoso. Porém, quando o país mais poderoso do mundo só faz campanha contra (enquanto apoia uma dúzia de déspotas mundo afora), é preciso estar atento. Digo isso porque estive na Venezuela por quatro dias. Pouco para tirar conclusões, mas o suficiente para perceber alguns exageros.

Hospedado em Valencia, a terceira maior cidade do país, em todos os dias observei as manchetes dos jornais da região, e também do "El Universal" e o "El Nacional", dois dos principais do país e de Caracas. Às vésperas das eleições, que acontecem dia 3 de outubro, as fotos principais da maioria das capas eram do Henrique Capriles Radonk, candidato da oposição e considerado favorito na disputa pela presidência, o que encerraria uma década e meia de Chavismo.

Aquilo me surpreendeu. Afinal, o que nos chega é que há um controle, uma censura aos meios de comunicação venezuelanos por parte de Chávez e seu "populismo absolutista". Mas, ao folhear os diários, havia mais páginas dedicadas a Capriles do que a Chávez. Ao mesmo tempo, a maior parte dos editoriais revelava o apoio ao candidato oposicionista.

Uma das edições mais emblemáticas foi a do "El Universal", de 22 de setembro (que fiz questão de trazer comigo na bagagem). A foto maior da capa era de Capriles - a foto de um comício de Chávez na cidade Mérida estava em uma chamada de pouco destaque, abaixo da manchete do candidato adversário. Abri o jornal: uma página inteira para Capriles, um quarto de página para o atual presidente.

Corri os dedos e os olhos para as páginas de opinião. Contei 13 editoriais abordando política. E os 13 eram assumidamente pró-Capriles. Um deles deixava claro que o pleito de 3 de outubro trazia ao povo a oportunidade de "escolher entre o futuro (Capriles) e o passado (Chávez)". No restante do jornal, curiosamente, Chávez aparecia de costas em todas as imagens - e ainda havia um anúncio de sua campanha em um pé de página.

Acessei o site do "El Nacional" hoje. A capa traz a foto dos dois candidatos, mas acima tem a chamada da entrevista com a mãe do candidato da oposição. Nos links de opinião, vários a favor de Capriles. Observo o link de uma revista chamada "Exceso". A capa é o Chávez em uma caricatura de Pinóquio, com direito a nariz grande e tudo.

Na volta desta viagem à Venezuela, fiz uma conexão em Bogotá. Na TV do aeroporto, a CNN transmitia uma entrevista de mais de uma hora com... Capriles. E depois, uma sequência de análises de políticos e comentaristas especializados sobre a provável derrota de Chávez. Até aí, tudo bem, estava na Colômbia, país que não nutre qualquer simpatia por Chávez. E a rede de TV estadunidense também não parecia esconder sua preferência política.

E o que a CNN passa para o resto do mundo é justamente esse controle exacerbado sobre a mídia venezuelana. Confesso que não tive tempo para assistir à programação televisiva, mas, em termos de mídia impressa, não consegui enxergar esta censura do governo de Chávez.

É preciso ficar atento com os rótulos e estereótipos exagerados que o sistema gosta de vender, principalmente na América do Sul. Quando envolve política, Estados Unidos e um produtor estratégico de petróleo, então...

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Quem está à deriva...

Deixa ver se eu entendi. A companhia que administrava o serviço de barcas no Rio de Janeiro foi privatizada no fim dos anos 90 na onda neoliberal da tucanada. A receita de bolo da justificativa era melhorar o serviço e desonerar o Estado que, teoricamente, tem a obrigação de oferecer transporte, saneamento, educação, saúde, entre outras coisas, aos cidadãos. Não cabe aqui nem entrar no mérito da qualidade das Barcas S/A desde sua privatização (que os políticos adoram camuflar com o termo concessão), pois é notório o lixo de serviço que eles prestam à população.

O que eu quero entender é por que raios o Estado continua derramando dinheiro na Barcas S/A se ela foi privatizada justamente para o dinheiro dos contribuintes ser investido em outras áreas? Isso mesmo, o Governo do Estado ajuda a Barcas S/A privatizada: por contrato, terá de comprar novas embarcações e reformar os terminais da Praça 15 e da Praça do Arariboia.

As autoridades públicas fazem vista grossa para o mal serviço e descaso das Barcas S/A, não aplica multas, não cassa a concessão e ainda por cima tem de fazer investimento para a empresa. E, mesmo assim, a incompetente Barcas S/A, aquela que presta um serviço porco e trata os usuários como gado, consegue ter uma dívida de R$ 89 milhões, segundo reportagem do jornal O Globo do dia 5 de abril (veja aqui). Detalhe: a Barcas S/A tem a tarifa mais rentável do país (se bobear, do universo). Cobrava R$ 2,80 até bem pouco tempo atrás e agora cobra R$ 4,50 para maltratar o usuário.

Além da vista grossa do Governo, que não aplica multa contra a Barcas S/A, tampouco tem peito para cassar sua concessão, essa tarifa de R$ 4,50 é subsidiada sabem por quem? Duas mariolas para quem pensou no Governo do Estado. Quer dizer, quem paga o aumento de passagem de uma empresa privatizada de quinta categoria é o contribuinte. E quem tem a infelicidade de precisar usar os serviços péssimos da Barcas S/A paga, então, duas vezes!

Na época do aumento, algum secretário engravatado comentou que o reajuste era necessário para evitar a quebra da Barcas S/A. Então, vamos entender: o contribuinte que não tem colégio para o filho, espera três dias para ser atendido em um hospital público, fica horas na fila de bancos, barcas, ônibus, da Supervia e do Metrô Rio, paga um dos impostos mais caros do mundo, tem, ainda, de arcar com a incompetência de uma empresa como a Barcas S/A, que não sabe gerir um serviço essencial e que maltrata esse mesmo contribuinte...

Agora, a Barcas S/A passou a ter controle majoritário da CCR, a mesma que explora rodovias privatizadas, inclusive, a Ponte Rio-Niterói. Dizem que a Barcas S/A presta este lixo de serviço porque era controlada pela empresa de ônibus 1001. Dá para acreditar que algo vai melhorar? Ou que o Governo vai tomar alguma atitude?

Eu não entendo nada mesmo...


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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Lá vem o pato


Não foi você quem causou a crise. Odeio começar qualquer texto com negativa, mas para tal assunto não (olha ele novamente) tem jeito. Não foram os trabalhadores os motivadores das turbulências econômicas que varrem a Europa, sacodem os Estados Unidos e respingam nas tais nações emergentes. Os caras que batem ponto todos os dias nas fábricas e empresas da Grécia, Espanha, Portugal, Irlanda e Itália não têm culpa alguma. Mas são eles quem vão pagar o pato. Na velha lógica do capitalismo arcaico, a corda oportunamente só arrebenta do lado mais fraco.

Nessa ciranda da crise econômica global, os poderosos brincam de banco imobiliário com o mundo. Os governantes pedem empréstimos esquecendo que a zona do Euro só tem moeda unificada – os juros continuam “independentes” –, as autoridades gastam aos borbotões e os especuladores deslocam suas fortunas ao seu bel-prazer. Sem qualquer regulamentação ou disciplina, sem gerar qualquer riqueza, produtividade ou emprego, podem quebrar um país com um simples clique no computador.

A solução mais prática, obviamente, é adotar os tais planos de austeridade. Benefícios sociais (que são obrigação de qualquer estado democrático) são expurgados, salários são reduzidos... tudo em nome da austeridade e para garantir ao investidor – aquele mesmo que, da sua cadeira, só lucra sem gerar qualquer riqueza – que ele pode continuar investindo ali.

O raciocínio é esse: um dos geradores da crise têm de ter garantido o seu ganha-pão. Quem vai para o sacrifício é a base da pirâmide. Mas será que cortando empregos e salários se salva uma economia?

Austeridade deveriam ter os governantes e investidores mundiais. Ética, disciplina e compromisso com quem move as economias mundo afora também não seria nada mal para esta turma. Aguardemos os próximos capítulos pois a crise não começou agora. Nem vai parar amanhã.

sábado, 10 de março de 2012

Valcke não é o único malvado



Fui e continuo contra a realização de Olimpíada e Copa do Mundo no Brasil. Acho que tudo é feito com a desculpa de trazer um legado para a cidade e o país, mas, na minha humilde opinião, infra-estrutura e o acesso da população aos princípios básicos de qualquer democracia deveriam ser, na verdade, pré-requisitos para os postulantes à sede de tais eventos esportivos. Utopia. Tais competições hoje suplantaram o objetivo do esporte e servem de barganha política, salvação econômica – e, claro, uma oportunidade para dirigentes, empresários e políticos malandros levarem o seu quinhão. Aqui, então, imaginem a festa.


Pois bem, Copa e Olimpíada estão aí, não tem jeito. Tem gente muito feliz com ambos os jogos por questões, digamos, comerciais, e a infra-estrutura das cidades e do país tende a melhorar. “Tende” porque tudo aqui no Brasil se arrasta. E isso irrita demais.


Deixemos de lado nacionalismos e submissão à cartilha da Fifa. Mas Jérôme Valcke, secretário-geral da entidade que manda e desmanda no futebol mundial, estava mesmo errado? Foi arrogante e indelicado, sem dúvida. Errou o tom. E foi um prato cheio para nossos governantes e autoridades virem com bravatas sob o pano do nacionalismo para se defenderem e, na verdade, desviarem atenção da raiz da queixa de Valcke: o Brasil continua uma piada no exterior.


As obras se arrastam, enquanto autoridades ficam discutindo o sexo dos anjos. Obras de infra-estrutura que, como escrevi anteriormente, deveriam ser obrigatórias. Temos malhas de metrô ridículas em São Paulo e no Rio. O da Cidade Maravilhosa, então, é piada.


Sem contar a qualidade dos serviços. A cidade que vai sediar a Olimpíada sequer consegue oferecer transporte decente para os usuários – detalhe que os principais meios de transporte de massa foram privatizados em nome de serviços de qualidade, pontuais e baratos e desonerar o Estado. Já o país que vai sediar a Copa não consegue sequer respeitar a Constituição: nega educação e saúde à população. Mas isso é assunto para outro post.


E mesmo sem conseguir tratar seus cidadãos com o mínimo de decência, esse mesmo país e essa cidade conseguem ganhar a Copa e os Jogos Olímpicos. E ainda têm a audácia de atrasar as obras essenciais para a realização de tais eventos. E ainda ficam ressabiados com o que o secretário da Fifa falou.


Isso sem contar os políticos que esbravejam contra as regras impostas pela Fifa (como se tivessem moral para tal). Em nome da soberania nacional, querem manter direitos como meia entrada e proibição de venda de bebidas nos estádios. A primeira só serve para a proliferação de estudantes que não existem – e a especialização em falsificação de carteirinhas e boletos bancários.


A segunda é uma das muitas ações paliativas das nossas nobres autoridades. Como não existe competência para fiscalizar e punir quem provoca violência nos estádios, colocam a culpa na bebida alcoólica.


Mas, vamos lá... Um dos principais patrocinadores da Fifa e do Mundial da senhora Fifa é uma marca de cerveja famosa. Vocês acham mesmo que, quando o Brasil resolveu se candidatar à sede da Copa não tinha um documento lá que avisava que a tal cerveja ia vender suas latinhas nos estádios? E vocês acham que o Brasil não se submeteu a todos os outros termos da Fifa para poder abrigar o acontecimento mais importante do futebol???


Então, paremos de demagogia, de ufanismos baratos. O culpado pelas imposições da Fifa é única e exclusivamente o Estado brasileiro. Aceitou jogar o jogo deles, tem de dançar conforme a música, vendeu a alma ao diabo, há vários termos para definir a relação promíscua entre o país-sede e a Fifa. Agora, aguente as consequências e imposições, por mais arbitrárias que possam parecer.


Valcke é mais um burocrata de um organismo que trata o futebol da forma mais mesquinha possível. Mas disse a verdade. E a verdade dói.