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sábado, 10 de março de 2012

Valcke não é o único malvado



Fui e continuo contra a realização de Olimpíada e Copa do Mundo no Brasil. Acho que tudo é feito com a desculpa de trazer um legado para a cidade e o país, mas, na minha humilde opinião, infra-estrutura e o acesso da população aos princípios básicos de qualquer democracia deveriam ser, na verdade, pré-requisitos para os postulantes à sede de tais eventos esportivos. Utopia. Tais competições hoje suplantaram o objetivo do esporte e servem de barganha política, salvação econômica – e, claro, uma oportunidade para dirigentes, empresários e políticos malandros levarem o seu quinhão. Aqui, então, imaginem a festa.


Pois bem, Copa e Olimpíada estão aí, não tem jeito. Tem gente muito feliz com ambos os jogos por questões, digamos, comerciais, e a infra-estrutura das cidades e do país tende a melhorar. “Tende” porque tudo aqui no Brasil se arrasta. E isso irrita demais.


Deixemos de lado nacionalismos e submissão à cartilha da Fifa. Mas Jérôme Valcke, secretário-geral da entidade que manda e desmanda no futebol mundial, estava mesmo errado? Foi arrogante e indelicado, sem dúvida. Errou o tom. E foi um prato cheio para nossos governantes e autoridades virem com bravatas sob o pano do nacionalismo para se defenderem e, na verdade, desviarem atenção da raiz da queixa de Valcke: o Brasil continua uma piada no exterior.


As obras se arrastam, enquanto autoridades ficam discutindo o sexo dos anjos. Obras de infra-estrutura que, como escrevi anteriormente, deveriam ser obrigatórias. Temos malhas de metrô ridículas em São Paulo e no Rio. O da Cidade Maravilhosa, então, é piada.


Sem contar a qualidade dos serviços. A cidade que vai sediar a Olimpíada sequer consegue oferecer transporte decente para os usuários – detalhe que os principais meios de transporte de massa foram privatizados em nome de serviços de qualidade, pontuais e baratos e desonerar o Estado. Já o país que vai sediar a Copa não consegue sequer respeitar a Constituição: nega educação e saúde à população. Mas isso é assunto para outro post.


E mesmo sem conseguir tratar seus cidadãos com o mínimo de decência, esse mesmo país e essa cidade conseguem ganhar a Copa e os Jogos Olímpicos. E ainda têm a audácia de atrasar as obras essenciais para a realização de tais eventos. E ainda ficam ressabiados com o que o secretário da Fifa falou.


Isso sem contar os políticos que esbravejam contra as regras impostas pela Fifa (como se tivessem moral para tal). Em nome da soberania nacional, querem manter direitos como meia entrada e proibição de venda de bebidas nos estádios. A primeira só serve para a proliferação de estudantes que não existem – e a especialização em falsificação de carteirinhas e boletos bancários.


A segunda é uma das muitas ações paliativas das nossas nobres autoridades. Como não existe competência para fiscalizar e punir quem provoca violência nos estádios, colocam a culpa na bebida alcoólica.


Mas, vamos lá... Um dos principais patrocinadores da Fifa e do Mundial da senhora Fifa é uma marca de cerveja famosa. Vocês acham mesmo que, quando o Brasil resolveu se candidatar à sede da Copa não tinha um documento lá que avisava que a tal cerveja ia vender suas latinhas nos estádios? E vocês acham que o Brasil não se submeteu a todos os outros termos da Fifa para poder abrigar o acontecimento mais importante do futebol???


Então, paremos de demagogia, de ufanismos baratos. O culpado pelas imposições da Fifa é única e exclusivamente o Estado brasileiro. Aceitou jogar o jogo deles, tem de dançar conforme a música, vendeu a alma ao diabo, há vários termos para definir a relação promíscua entre o país-sede e a Fifa. Agora, aguente as consequências e imposições, por mais arbitrárias que possam parecer.


Valcke é mais um burocrata de um organismo que trata o futebol da forma mais mesquinha possível. Mas disse a verdade. E a verdade dói.