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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Rock Latino Americano: Las Pastillas del Abuelo


A primeira vez que ouvi esta banda argentina se deu em uma situação inusitada. Foi entre o Natal e o Reveillon de 2009. Eu e minha mulher estávamos em Buenos Aires e tínhamos acabado de retornar de Rosario. Resolvemos dar umas voltas pelo centro da capital argentina e quando estávamos em umas ruas próximas à Plaza de Mayo, ouvimos um som alto que mesclava música com gritos de ordem. Na curiosidade inerente ao casal, apertamos o passo para entender o que se passava. Avistamos a principal e emblemática praça argentina repleta de pessoas dos mais diferentes gêneros. Garotada descolada, hipongas, jovens com cartazes, outros com bandeiras, senhores de boina, alguns de terno, muitas camisas do Che para lá e para cá e ambulantes vendendo camisetas e CDs. Um palanque improvisado revezava grupos de rock com discursos. Era um protesto de movimentos sociais contra a truculência e violência policial, acusada de desaparecimentos e assassinatos durante os inflamados testemunhos de parentes e políticos. Pelo visto, os Esquadrões da Morte que aterrorizaram a Argentina durante a feroz Ditadura Militar dos anos 1970 continua ativa.

Pois bem, uma sequência de músicas me chamou a atenção e perguntei a um estudante ao meu lado de quem se tratava. Obviamente, não entendi uma sílaba sequer vinda daquele ser que tentava se equilibrar nas próprias pernas já abaladas por muitas doses de vodka. Fomos salvos por uma vendedora de bebidas, que explicou que a banda em questão era Las Pastillas del Abuelo. Não sei se eram os próprios no palco ou era um cover e também ninguém conseguiu decifrar minha dúvida. Mas o som me soou interessante, assim como o próprio nome da banda, que quer dizer algo como "As pílulas do vovô" ou "Os remédios do vovô". Percebi depois que os ambulantes vendiam muitas camisas do grupo - e de outros os quais anotei o nome em um pedacinho de jornal para depois garimpar e pesquisar nas lojas da cidade e na internet.

Depois de curtir mais de uma hora de show e uma diversidade de bandas, eu e minha mulher voltamos ao hotel com a ideia fixa na cabeça de no dia seguinte explorar as "novas bandas" na primeira loja de música que encontrasse na Florida. E a primeira na pauta seria, sem dúvida, Las Pastillas del Abuelo. Acabei comprando o primeiro disco – "Por Colectora" –, gravado em 2005 pelo conjunto que se formou três anos antes. E me dei conta, pela quantidade de camisas que eram vendidas na manifestação do dia anterior e pelo certo destaque no mostrador de CDs, que trata-se de uma banda bastante popular na Argentina. Comentam, inclusive, que é a de maior sucesso da Argentina desde a tragédia de República Cromañón.

Aqui, uma pequena pausa. Esse fato é considerado o momento mais triste e emblemático da história do RNA – Rock Nacional Argentino. Em 30 de dezembro de 2004, durante um show do grupo Callejeros, um incêndo na casa noturna República Cromañón matou 193 pessoas e deixou mais de 1.400 feridos. Um acontecimento que teve reflexos sociais, culturais e políticos. Quatro anos depois, o dono da casa, o ex-subcomissário de polícia e o ex-empresário dos Callejeros foram condenados a mais de 18 anos de prisão cada.

De volta ao pessoal das pílulas do vovô. CD no carro, a primeira coisa que me chamou a atenção no conjunto foi a voz bastante marcante e grave do vocalista Juan G. Fernández, o Piti. É ele quem conduz um repertório que mescla rock com pitadas de ritmos bem peculiares, como a Chacacera, dança típica do norte da Argentina cantada por índios – sim, na Argentina há índios, felizmente, como em Jujuy, onde um desavisado pode pensar que está na Bolívia. Essa "influência" pode ser percebida em "Perdido", do primeiro CD. Outra mistureba de rock com as raízes sulamericanas no álbum de estreia é "Saber Cuando Parar", com a batida do Candombe. Trata-se de um ritmo trazido por escravos entre os séculos 18 e 19 que se perpetuou principalmente no Uruguai. Ainda em "Por Colectora", "Cubano" traz uma introdução que remete a Buena Vista Social Clube e Santana. Mas também há uma boa dose de reggae em algumas músicas, como "Loco por Volverte a Ver".

As letras de Las Pastillas são carregadas de temas como amor e coisas do cotidiano, como "Contra Viento y Marea" e "Cerveza", só para citar algumas. Nas canções, é comum encontrar palavras de impacto, versos que falam de sexo, muitos palavrões sem qualquer gratuidade e algumas cutucadas sociais, como em "Donde Esconder Tantas Manos" e em "Por un Peso con Cincuenta". Uma das mais famosas é "El Sensei", uma balada acústica, mas há uma infinidade de canções interessantes para pesquisar e curtir. No My Space oficial da banda (www.myspace.com/pastillasdelabuelooficial) é possível ter uma canja de várias delas, como "Oportunistas - ¿Vivo en Cual Es?", "¿Que vicios tengo?", entre outras. No site oficial do grupo (www.pastillasdelabuelo.com.ar) também é possível saber mais sobre músicas e baixar canções em MP3 do último CD "Crisis", de 2008 – em 2006 eles lançaram o segundo disco, que leva o nome da banda, e agora preparam o próximo álbum "Versiones". Obviamente, eles também estão no Facebook (laspastillasdelabuelooficial) e no Twitter (twitter.com/#!/delabuelo).

A página oficial da internet, aliás, merece atenção. Visualmente causa estranheza e passa simplicidade, mas possui links para comprar músicas do Las Pastillas pelo iTunes. Também traz uma agenda de shows atualizada, fotos de apresentações, clipes e até uma lista linkável de bandas e músicas amigas. A descrição da banda no site é a parte mais divertida. Cada componente é classificado como um remédio – nem sempre para problemas nobres. Piti, por exemplo, é a pílula para disfunções eréteis. O guitarrista Diego Bozzalla é o remédio para a memória e o também guitarrista Fernando Vecchio é a receita para reumatismo. Já para o tecladista Alejandro Mondelo sobrou ser o remédio para a próstata e coube ao baixista Santi Bogisich ser a solução para pisão de ventre. Por fim, o baterista Juan Comas é a pílula para incontinência urinária e o saxofonista Joel Barbeito é a solução para manchas na pele. Se são hipcondríacos, não consegui descobrir. O fato é que essa turma de "remedinhos" deve ter a receita para lotar um estádio como o do Ferrocarril Oeste em um show que reuniu mais de 15 mil pessoas. Vídeos da apresentação tem aos montes no You Tube .

Semana que vem tem mais sobre alguma banda do cenário roqueiro latino americano!

Fotos: Site oficial do Las Pastillas del Abuelo

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