Postagens populares

terça-feira, 1 de março de 2011

Rock Latino Americano: Aterciopelados


Essa eu e minha mulher descobrimos enquanto descíamos as sinuosas estradinhas do Cañon del Chicamocha, um visual estonteante de cânions no coração da Colômbia. Tínhamos acabado de deixar as históricas e simpáticas Villa de Neyva e Barichara e estávamos rumo ao litoral caribenho colombiano quando sintonizamos mal e porcamente uma estação de rádio que tocava esta banda, que, provavelmente, muita gente já conhece (mas que eu, na minha ignorância musical, desconhecia). O Aterciopelados prepara o seu oitavo álbum, tem vários prêmios Grammy nas costas e os aficionados por games provavelmente já escutaram “Paces” no Fifa Soccer 2008. Em 2006, foi considerado pela revista estadunidense “Time” como o terceiro melhor grupo musical do mundo. Só que o fato mais emblemático desta dupla colombiana é que uma de suas músicas, “Cancion Protesta”, foi escolhida como o Hino dos Direitos Humanos pela Anistia Internacional (AI), cujo clipe é encontrado facilmente no You Tube (veja aqui).

A escolha da bela melodia dos Aterciopelados para ser o tema da AI é mais do que coerente. O grupo (ou dupla) sempre se caracterizou por evidenciar suas letras críticas. Antes mesmo de cantarem “Contra los talabosques/Contra los armaguerras/Contra los cazapatos/Contra los bajanota/Suena otra canción protesta/Pero no la llamen terrorista/No es que sea antipatriota/Es que trae otro punto de vista”, Andrea Echeverri e o baixista Héctor Buitrago já tinham cutucado o sistema com outras músicas. “Colombia Conexión”, “Bandera” e “Quemarropa” vêm carregadas de críticas políticas e sociais, enquanto “Caribe Atômico” faz questionamentos ambientais, que se tornaram uma vertente do Aterciopelados.


O engajamento se confunde com a própria dupla. No lançamento do último CD “Rio”, de 2008, com a música “Treboles”, o Aterciopelados promoveu um evento chamado “Ninguna Mata, Mata”, com ciclos de palestras, meditações, exposições, vídeos, grupos de canto, entre outras ações que tiveram como tema o meio ambiente. No site da dupla (www.aterciopelados.com) há um vídeo experimental sobre um “Green Man” e outros links sobre questões sociais e “verdes”, como o “Canto al Água” e até a íntegra de uma decisão judicial sobre “La Mata que Mata”, uma campanha publicitária do Ministerio de Interior y Justicia y a la Dirección Nacional de Estupefacientes da Colômbia, considerada ofensiva e prejudicial aos direitos individuais de uma índia Nasa, que é responsável pela Coca Nasa, bebida à base da planta de coca.

Essa preocupação social dita a carreira do Aterciopelados desde seu início. O conjunto surgiu em 1990, sob a alcunha de Delia y los Aminoácidos. Dois anos mais tarde adotou o nome atual. O lançamento do primeiro álbum “Con el Corazón en la Mano” aconteceu em 1994. Foi o segundo CD, contudo, que evidenciou a banda. “El Dorado”, de 1995, vendeu mais de um milhão de cópias (600 mil fora da Colômbia) e trouxe canções como “Florecita Rockera”, “La Estaca”, “Candela” e “Bolero Falaz”, música que ganhou projeção na MTV Latina. Andréa Echeverri ainda participou do disco “Umplugged”, do Soda Stereo (grupo argentino que também vai figurar na série sobre Rock Latino Americano deste blog, em breve), e da faixa "Tudo Vai Ficar Bem", dos brasileiros do Pato Fu.


Outros discos vieram e depois de trabalhos solo de cada um dos protagonistas da banda, lançaram “Oye”, em 2006. “Cancion Protesta” faz parte deste álbum, que ainda conta com a excelente e ácida “Don Dinero”, uma crítica clara ao consumismo desenfreado e ao imperialismo das grandes potências. O Grammy Latino veio neste CD, considerado o Melhor Álbum de Música Alternativa. As turnês pelas Américas e pela Europa tomaram a agenda da dupla.

O Aterciopelados, aliás, é considerado um grupo de rock alternativo, adjetivo que, na minha humildíssima opinião, inventam para rotular toda banda que busca outros ritmos, como muitas que vou falar nessa série sobre Rock Latino Americano. É verdade que o álbum “Caribe Atômico”, de 1998, tem um lado “alternativo” bastante evidente e uma pegada eletrônica interessante, tanto que rendeu ao grupo outro Grammy, desta vez de Melhor Álbum de Rock Alternativo Latino.


O fato é que a dupla colombiana em questão não foge de suas raízes latinas. Nem mesmo em seu figurino, onde os dois usam e abusam de vestimentas indígenas e tradicionais da Colômbia. Além disso, o Aterciopelados usa de toques de rumba e salsa em muitas de suas canções, como “El Álbum” e “La Colpable”. A faceta rock fica evidente em músicas como “La Estaca” e “Florecita Rockera”. Também busca ritmos indígenas em “Dia Paranormal”, pitadas claramente pop em “No Necesito”, “Treboles” e “Rio” e até um passeio pelo tango em “Maligno”.
Muitas destas canções relacionadas podem ser escutadas no My Space oficial do grupo (myspace.com/aterciopelados). No site da dupla também é possível escutar outras, entre elas “Ataque de Risa”. Tem mais deles no Facebook (facebook.com/aterciopelados) e é possível segui-los no Twitter (@aterciopelados). Boas maneiras de conhecer melhor a banda, suas músicas e suas ações engajadas, que sempre merecem reflexão. Seja no Cañon del Chicamocha ou deitado no chão da sala.

Fotos: Site oficial do Aterciopelados

Nenhum comentário:

Postar um comentário