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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Rock Latino Americano: Tijuana No!


Contra o sistema de corpo e alma. Essa é a essência do Tijuana No!, banda mexicana da cidade de mesmo nome e que pode ser conhecida por muitos por ter contado com a participação de Julieta Venegas nos seu, digamos, período embrionário. O grupo, que terminou em 2002, nasceu em 1990 e já trazia no nome a contestação. Surgiu como No, até que os integrantes descobriram que já existia um conjunto de mesmo nome. Mudaram para No de Tijuana, mas logo depois adotaram a alcunha de Tijuana No!, com direito à exclamação. Uma forma de embasar, talvez, suas letras carregadas de ataques políticos e sociais.

Miséria, corrupção, desigualdade social, racismo e as políticas de imigração no vizinho do norte. Tudo isso e um pouco mais recebeu o som de ritmos que vão do ska e do reggae a punk rock e com pitadas de sons indígenas e latinos. Uma verdadeira salada de ritmos temperada com letras ácidas. Alguém mais desavisado pode até achar que o grupo se parece com o Manu Chao. E, realmente, o Tijuana No! não apenas compartilha a visão política e crítica do cantor francês, como o ex-Mano Negra fez participações em algumas gravações e apresentações da banda.

Como em “Transgressores de La Ley”, que pode ser visto em um vídeo bem “caseiro” no You Tube (veja aqui). Nele, se vê uma bandeira do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), grupo que iniciou um movimento guerrilheiro em Chiapas, em 1994, e que tem forte presença no sul do México, uma das regiões mais esquecidas pelas autoridades do país. Assim como o Manu Chao, o Tijuana No! declara abertamente o seu apoio ao grupo. Em certas gravações, inclusive, há mensagens embutidas do Subcomandante Marcos, líder do movimento. A música pode ser melhor entendida em um clipe também no You Tube (veja aqui).

A simpatia explícita por movimentos políticos e sociais de cunho revolucionário pode ter custado portas ao Tijuana No!. Mas o aspecto marginal e caseiro de suas produções em vídeo, por exemplo, é o grande barato do grupo. E sugerem que a banda era pouca afeita a holofotes e fama superficial. Preferia mesmo fazer shows e expressar suas visões, seus descontentamentos e as veias abertas do seu país. Tanto que é preciso garimpar suas músicas através de vídeos na internet. Não existe página oficial da banda (ou eu não tive expertize suficiente para encontrá-la). Há um tímido espaço no My Space (myspace.com/tijuanano) e uma página não oficial no Facebook (/Tijuana-No-official-band-page).

Quem tiver paciência para garimpar vai encontrar canções viscerais comandadas por Paola Tellez (voz), Luis Güereña (voz e percussão), Teca García (voz, percussão e flautas), Jorge Velazquez (baixo), Jorge Jímenez (guitarra), Alejandro Zuñiga (bateria), Dardin Coria (teclados), além do DJ Tijuas nas carrapetas. Como “Niños de La Calle”, do segundo álbum, “NO”, de uma gravadora independente, que . Ainda no CD, de 1993, “Cowboys Asesinos” é uma divertida crítica aos estadunidenses. “Si”, por sua vez, é um rock que começa despretencioso e com as indefectíveis flautas indígenas latinas. Já “Fiesta de Barrio” (com participação novamente de Manu Chao) exalta o bom e velho reggae.

Pobre de Ti” foi o primeiro grande sucesso e faz parte do terceiro álbum, “Transgressores de La Ley” (da mesma música falada acima), de 1994. A canção pode ser conferida em uma apresentação ao vivo no Festival Vive Latino em http://www.youtube.com/watch?v=XB4GyFcDLGc, que conta até com a participação de Julieta Venegas grávida. O show é de 2010? Bem, os integrantes ainda se reúnem esporadicamente para prestar homenagem ao vocalista, percusionista e líder da banda Luiz Güereña, que morreu em 2004.

Sons imperdíveis deste CD são “Spanish Bombs” e “Borregos Kamikazes”, este mais uma vez com participação de Manu Chao. O cantor basco Fermin Muguruza, autor de letras fortes de punk rock e simpatizante do movimento separatista basco ETA (Pátria Basca e Liberdade, na tradução do basco para o português), participa das faixas “La Esquina del Mundo” e “Pobre Frida”.


Em “Contra Revolución Avenue”, de 1998, Muguruza também participa de “Renace La Montana”. Já no “Rock del Milenio” (1999), o Tijuana No! traz “La Migra”, mais um venenoso e divertido deboche em torno da questão da imigração. O início da canção sugere uma situação de mexicanos tentando atravessar a fronteira até serem interpelados por um truculento policial dos EUA, que fala um espanhol atravessado na gravação original: “Hey mecsicanos, no moverse pa tras de la frontera. Nosotros no quererlos aquí en los Estados Unidos. Ustedes estar muy feos!”. A música faz parte do set list do mesmo show do Vive Latino linkado acima (veja aqui).

A “despedida” do Tijuana No! foi com um álbum ao vivo em Bilbao, em 2000, no País Basco. Um show, segundo relatos na rede, inesquecível e com a pegada ácida de sempre. Uma crítica que serve como grito para muitos mexicanos e outros povos e que realçam o caráter peculiar de muitas bandas de rock latino americanas. As veias abertas podem e ainda são cantadas no continente.

Fotos: Divulgação

Um comentário:

  1. Oi Fernandinho, depois de ler o seu blog sobre o assunto do grupo Tijuana No! (com a exclamacao) voce conseguiu me trazer memorias dos tempos de Radio da Faculdade quando o Paulinho promovia o grupo Silent... (com todas as pontuacoes possiveis). No mais, vc bem sabe que sou pro-revolucao e pro-arte, pois acredito na liberdade de expressao, de ideias, de musica, devida... Mil beijos e boa sorte no seu novo Blog. Da Amiga Louise Passalacqua.

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