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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Um oásis no marasmo crônico esportivo


Escrevi dois posts atrás sobre a chatice que está o futebol. Uma chatice que se replica em outras esferas que envolvem o esporte, como mesas redondas, debates esportivos e programas de rádio ou TV. São formatos que, mesmo involuntariamente, caem na mesmice e no previsível, com algumas poucas exceções. E uma grata exceção é o "Rock Bola", que exatamente hoje completa nove anos de vida. Para quem não é do Rio, trata-se de um programa de rádio veiculado pela Oi FM - mas também disponível na internet no site da emissora (www.oifm.com.br).

Irreverente pela própria natureza, a produção reúne um representante de cada time grande carioca para debaterem como se fossem torcedores em uma mesa de bar. Despojados e irônicos, fogem (felizmente!) da chatice do policitacemente correto. Não têm qualquer preocupação com formalidades - nem mesmo na hora dos anunciantes - e o melhor: o âncora Alexandre Araújo, Toni Platão (Flu), Waguinho (Vasco), Tavares (Fla), Lopes Maravilha (Botafogo) e o repórter BB Monstro não se levam extremamente a sérios como a maioria dos cronistas esportivos – não estou dizendo que eles não são sérios, me refiro ao contexto do programa (olha eu agora como um chato politicamente correto).

Me lembro a primeira vez que ouvi o "Rock Bola", acho que lá por 2002. Era na extinta Rádio Cidade (mesmo dial da Oi FM atualmente) e tinha Escobar como âncora (que levou seu bom humor, improviso e irreverência de forma brilhante para a TV Globo, na minha singela opinião) e Ivo Meireles como comentarista do Fla. Me recordo bem que estava em um estacionamento de supermercado à espera da minha mãe quando escutei pela primeira vez o programa e dei muitas gargalhadas. Parecia um doido dentro do carro. E pensei na hora: "Caramba, é isso. O torcedor quer isso, se identifica com isso". Achei genial. Hoje eles têm um espetáculo, o "Talk Show de Bola", em cartaz no Teatro dos Grandes Atores, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, além de um site (www.rockbola.com.br).

Durante esses nove anos ouvi muita gente comentar que o formato do "Rock Bola" se parecia muito com o "Rock Gol", da MTV. Pode ser, mas acho que o programa de TV não tinha a mesma dose de irreverência e do politicamente incorreto. Muitos também apostaram que o programa não ia se sustentar nem durar. Com o fim da Rádio Cidade, ficarem um tempo fora do ar, chegaram a fazer o programa na FM O Dia, mas encontraram novamente seu lugar na Oi FM. Eu como ouvinte quase assíduo desses nove anos posso dizer que os caras não perderam a mão, se reinventam e continuam comentando futebol com um enfoque que cativa o torcedor, que diverte, que anima, que provoca o rival. Pois esse é o espírito do futebol. Parabéns ao "Rock Bola". E que os programas de rádio e de TV esportivos incorporem um pouco desse jeito mais "jocoso", como diria Lopes Maravilha.

Foto: Site do "Rock Bola"

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Rock Latino Americano – Muito além do idioma


Antes de mais nada, quero deixar claro que não sou músico, tampouco crítico de música ou jornalista especializado em música. Meu gosto musical, aliás, é bem preguiçoso, restrito, um pouco eclético, mas bastante seletista, do tipo que não ouve determinado ritmo nem que seja pago para isso. Só que as andanças a trabalho ou a passeio por países da América do Sul despertaram uma curiosidade sobre o rock cantado em espanhol nos nossos "vizinhos" – alguns próximos, outros nem tanto.

É notória uma barreira cultural entre o Brasil e os demais latino-americanos. Uma barreira construída pela língua, naturalmente. É verdade que na literatura temos diversos autores geniais traduzidos para o português, como Eduardo Galeano, Mario Vargas Llosa, García Marquez, Mario Benediti, entre outros. Mas com a música não há tradução e só absorvemos praticamente o rock cantado em inglês. O Manu Chao pode ser até uma exceção. Apesar de ser francês, ele traz em suas canções, além do protesto e das críticas sociais e políticas diretas, uma latinidade autêntica. Assim como uma mistura de ritmos envolventes, entre eles o rock.

Foi o Manu Chao, aliás, quem despertou meu ouvido para ritmos latinos que fugissem dos gêneros tradicionais de cada país. Influência direta da minha mulher, fã do cantor, apesar de eu ter assistido a um show dele acho que no Circo Voador alguns anos atrás. Pois bem, passei a garimpar, em cada viagem, grupos de rock nativos. Argentina, Chile, Colômbia e Uruguai. Em todos esses lugares sintonizo estações e vou a lojas de discos garimpar e conhecer as propostas de rock cantado em espanhol. Depois, foi a vez de passear pela bendita internet para ir além e pesquisar outras bandas do gênero no México, Peru, Equador, Venezuela e em outros países.

E a Internet é a grande aliada nessas minhas aventuras musicais leigas pelo rock latino-americano. Graças a ela que vou fazer uma espécie de série aqui no blog para falar de algumas bandas interessantes que encontrei no mundo virtual. Hoje começarei pelo México, país com vários grupos dos mais diferentes gêneros. Mas reafirmando que minha "análise" de bandas, comentários e históricos serão bem sutis e sem quaisquer pretensões de analisar profundamente as tendências ou ritmos empregados pelas bandas.

Ou seja, nada de discografias extensas e análises conjunturais. Até porque, em meia hora de navegação na internet pode-se descobrir muito sobre qualquer banda do planeta. São posts apenas que gostaria de compartilhar e mostrar que há rock além da pronúncia inglesa. E muito mais perto do que a gente imagina.

Café Tacvba (México)

Se lê "Café Tacuba" mesmo. Na verdade, o grupo criado em 1989 é um dos mais populares na América Latina. Formada por Rubén Albarrán (voz e guitarra), Emmanuel "Meme" del Real (guitarra, piano e vocais), Joselo Rangel (guitarra e vocais) e Quique Rangel (baixo e guitarra), a banda se inspirou em um restaurante de mesmo nome no centro histórico da Cidade do México – que hoje é uma loja de café –, mas mudou a escrita para evitar problemas legais. Como a maioria dos conjuntos mexicanos de rock, várias de suas músicas têm clara influência de ritmos indígenas, muito bem utilizados em algumas canções como "Las Persianas". Mas há também referências a outros ritmos, como reggae, hip-hop, música eletrônica e ska. De modo geral, é considerada uma banda de rock alternativo. Pode ser, mas de qualquer forma se percebe diferenças de estilos variados.

Isso fica claro em músicas como "Amor Divino", "Como te Extraño Mi Amor", "Maria", "Esa Noche", "Las Flores" e "La Ingrata". Mas minhas preferidas são "Eres", "El Aparato", "Déjate Caer" e "Oye Carlos". "Avientame" é uma bela melodia voz e violão, que faz parte da trilha sonora do filme "Amores Brutos", alías, uma excelente produção mexicana dirigida por Alejandro González-Iñárritu. Eles também emplacaram "Insomnio" no longa-metragem "E sua Mãe Também", de Alfonso Cuarón.

Mas há uma infinidade de vídeos e canções do Cafe Tacvba que podem ser explorados. É possível degustar de várias canções da banda no My Space (www.myspace.com/cafetacvba). Além disso, o clipe de "Ingrata" é bastante divertido e mostra essa pluralidade do conjunto (confira esse vídeo no You Tube aqui). E logicamente eles estão no Twitter (twitter.com/#!/cafetacvba) e no Facebook (facebook.com/cafetacvbaoficial). O grupo também tem uma página oficial (www.cafetacuba.com.mx) onde tem destaque "Seguir Siendo", documentário sobre a banda, com direito a trailer e making of.

O Café Tacvba gravou nove discos, sendo que "Re", de 1994, é apontado por muitos críticos como o melhor da banda. Segundo a MTV, foi considerado um dos mais criativos álbuns dos anos 90, devido ao mix de estilos apresentados no disco. Por falar em Music Television, o grupo tem um CD/DVD "Umplugged MTV", gravado em 1995, mas lançado apenas em 2005 - nesse mesmo ano chegou ao mercado um álbum ao vivo "Un Viaje".

Semana que vem tem mais sobre algumas bandas do Rock Latino-Americano! Até lá!

Foto: Divulgação


sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Chatice Futebol Clube

Certa vez em uma entrevista no "Programa do Jô", o jornalista e comentarista esportivo Paulo Vinícius Coelho explicou sua relação com o futebol de uma forma interessante. Não me recordo ao certo as palavras, mas ele disse que em determinado momento da vida percebeu que gostava mais de futebol do que do Palmeiras. Pois é, comigo – e acho que com muitas pessoas – aconteceu o inverso. De uns tempos para cá, descobri que gosto do Fluminense e não de futebol. Assim como conheço pessoas que, mesmo involuntariamente, gostam mais de seus respectivos times de coração do que realmente de futebol. Ou seja, é preciso ter uma motivação passional para que se prendam durante 90 minutos (ou mais) a uma "peleja".

Nem sempre foi assim. Já gostei de futebol. Em alguma época nem tão distante, assistia, sempre que podia, a qualquer partida. No Maraca, Laranjeiras, São Januário, Rua Bariri e até no simpático e extinto estádio do Andaraí, que ficava perto da minha casa e onde hoje funciona o Shopping Iguatemi. Pense nas partidas mais desinteressantes do mundo, eu gostava de ir. Assisti a um memorável América 1 x 2 Madureira, em Marechal Hermes, e a São Cristóvão x Bonsucesso, certa vez, no Figueira de Melo.

Hoje, confesso, não tenho paciência para o futebol. Se não existisse o "Time das três cores que traduzem tradição", provavelmente nem me daria ao trabalho de passar os olhos nas páginas de esporte, parte do jornal que eu lia primeiro quando era criança. Talvez culpa do acesso farto ao próprio futebol. Nos anos 70 e 80 (o ruim disso é que denuncio minha idade) era raríssimo alguma partida do campeonato Carioca ser transmitida ao vivo pela TV. Campeonato Brasileiro, então, mais difícil ainda. Ou se ia ao estádio ou se colava o ouvido no radinho. Hoje, tem bar que passa 10 jogos simultaneamente.

E percebo que isso tem se tornado comum. Em conversas de bar, muita gente deixa claro que só acompanha futebol por conta do clube de coração e da zoação entre amigos. Seleção Brasileira? Na Copa até se animam, talvez mais pelo pretexto para fazer aquele churrasco regado a cerveja gelada. Mas, além disso, muitos não se dão mais ao trabalho de ver o amistoso do Brasil com o combinado de Dubai ou de reclamar do treinador da Seleção.

Será que o futebol está ficando chato? Ou eu que estou ficando cada vez mais fanático pelo meu time?

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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Remake da vida real

Parece notícia velha. E é. É, porque todo mundo sabe que verão forte e calor escaldante resultam em chuvas torrenciais, deslizamentos, mortes e cidades isoladas. Infelizmente todo mundo sabe, mas muitos não querem saber ou fingem nada saber. O que acontece na Região Serrana do Rio de Janeiro é um "remake" do que aconteceu na região de Angra dos Reis no ano passado e que vai acontecer, infelizmente, em algum outro ponto do estado no ano que vem. Não precisa ser tarólogo, numerólogo ou vidente para prever isso. Afinal, muito pouco ou nada é feito para evitar tais tragédias. Conta-se nos dedos as cidades brasileiras que efetivamente tenham um planejamento urbano. Não em teoria, porque todas elas devem ter. E sim na prática.

Tem também a questão da política habitacional. No ano passado, o Ministério das Cidades revelou que o déficit habitacional no país em 2008 era de 5,8 milhões de domicílios e que 82% deste déficit está concentrado em áreas urbanas, segundo estudo da Fundação João Pinheiro. Cenário ideal para o crescimento desordenado de qualquer cidade. Quem passa pela Rio-Bahia na altura de Teresópolis, ou pela estrada União-Indústria, em Itaipava, ambas na serra fluminense, sabe o que é isso. Há 15 anos, existiam poucas construções nas encostas. Hoje, as margens dessas duas estradas estão repletas de construções precárias, sem qualquer planejamento, urbanização ou ordenamento por parte do poder público.

E logo colocam a culpa no sujeito que foi morar lá. Só que muitas dessas ocupações, seja na serra ou nas metrópoles como Rio e São paulo, segundo denúncias dos próprios moradores, são motivadas por políticos. Eles fornecem material de construção já pensando no troco em forma de voto na próxima eleição. Aí, temos de ouvir do prefeito de São Paulo que a população sabe do perigo de morar lá. Ou ouvir de muitas pessoas, no frescor de seu apartamento com ar-condicionado, dizer que favelado gosta de morar no morro para não gastar muito, não pagar IPTU, ficar perto do trabalho, ter vista para a praia, entre outras baboseiras.

Alguém realmente em sã consciência acha que o cara fica em um barraco pronto para cair porque gosta? Vamos focar no Rio. O salário-mínimo hoje no Estado é de R$ 581,11. Vamos supor que o cara ganhe R$ 1 mil líquido por mês. Na Cidade Maravilhosa, não se aluga um imóvel de dois quartos e sala por menos de R$ 500 com muita facilidade. Procurando, pode-se achar em bairros distantes da Zona Oeste, como campo Grande e Bangu, de onde se leva, em condições normais, duas horas para ir ao Centro. Quer dizer, sobra R$ 500 para o cara comer, pagar luz, água é gás, se vestir, ir para o trabalho etc. Ou seja, as pessoas pagam R$ 600, R$ 700 ou R$ 1 mil por mês de salário e querem que seus funcionários morem no "asfalto" de uma das cidades mais caras do mundo para se morar.

Mas aí dizem: por que não mora lá longe? Sim, é fácil criar esse Appartheid imobiliário. Joga-se as classes D e E lá para Sepetiba – nada contra Sepetiba pois passei bons momentos da infância por lá. Mas, depois, os mesmos que reclamam se queixam que o funcionário que mora lá não tem, produtividade boa, chega atrasado, gasta muito com passagem, etc etc etc. Pois bem, o cara mora a duas horas de ônibus do Rio, uma cidade onde os transportes públicos e de massa estão longe de serem exemplos e referências de bom atendimento.

Um exemplo que ilustra essas contradições tipicamente brasileiras é o próprio Censo 2010. Os primeiros dados do IBGE apontam que há atualmente no país 6,07 milhões de domicílios vagos. Ou seja, eles acabariam com o déficit habitacional calculado em 5,8 milhões. Mas por que há tantos imóveis desocupados? Tirando a parte da especulação imobiliária, fica claro que a maior parte da população brasileira que se enquadra nesse déficit não tem poder aquisitivo para comprar ou alugar uma casa ou apartamento.

O outro lado também não ajuda muito. Reportagem do jornal "Extra" em abril do ano passado, logo após as enchentes que devastaram o Grande Rio, revelou que a Prefeitura de Niterói aplicou apenas 0,01% do orçamento de 2009 na construção de casas populares, o que significava, na época, R$ 94,3 mil em recursos aplicados. Pois bem, a cidade foi uma das mais atingidas pelas chuvas de abril de 2010, com deslizamentos e mortes em diversas comunidades. E cada tragédia só aumenta a dimensão do problema. Segundo reportagem do portal Uol em julho do ano passado, as enchentes que atingiram Alagoas aumentaram em 15% o deficit habitacional do Estado.

O Governo Federal diz que a meta é liquidar com esse déficit nacional de 5,8 milhões de domicílios até 2023, com programas como o "Minha Casa, Minha Vida" e com a segunda fase do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento. Pois bem, até 2023 falta muito. E as consequências do que não foi feito lá atrás estão aí. E estarão, infelizmente, no ano que vem. Enquanto isso, São Pedro não conta com advogados para cuidar da sua defesa.


segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Saga imobiliária - O começo

Domingo, eu e minha mulher começamos a saga de procurar imóvel. Quem leu essa primeira frase já deve ter levado a mão à cabeça e soltado: "Putz, procurar apartamento é uma merda". E é mesmo. Seja para alugar ou para comprar, é uma saga chata e cansativa. Quem aluga sofre mais, pois as imobiliárias e os corretores, em geral, parecem odiar locações. Mas é justamente o corretor a espécie de figura central deste processo. Ele tem o estranho poder de minimizar as agruras da caça ao imóvel ideal, ou levá-las a níveis enlouquecedores.

Mas seria uma injustiça falar que todo corretor é igual e mala. É preciso classificá-los e distingui-los, o que já se torna uma grande ajuda para o comprador ter ideia do que vai enfrentar. O tipo mais comum é o corretor amigo. Você falou com a pessoa uma vez na vida pelo telefone e ela já te liga na segunda vez como se fossem velhos conhecidos. Quando te encontra na hora de ver o apartamento, é só sorrisos e só falta te dar um abraço efusivo.

Este tipo de corretor geralmente absorve também a figura do corretor Poliana. É aquele cara que acha que tudo vai ficar melhor, que tudo tem jeito. O apartamento está lá, caindo aos pedaços, piso detonado, infiltração no teto e cozinha com azulejos azuis, amarelos e rosas, mas fica falando com as paredes: "que imóvel bom", como quisesse convencer a si mesmo. Fala que a localização é excepcional, apesar de estar a quatro quarteirões da padaria mais próxima, a 1 km do ponto de ônibus e a rua em questão ser rota de fuga de traficantes. Depois insiste que é um ótimo negócio e que uma obrinha vai deixar o apartamento a sua cara. "Você vai gastar no máximo uns R$ 5 mil e veja pelo lado bom: vai ficar do seu jeito".

Aliás, quando o corretor disser, ainda pelo telefone, que o imóvel precisa de modernização, prepare-se para encarar um cenário estarrecedor de Haiti pós-terremoto. Modernização no vocabulário dos corretores é sinônimo de apartamento semi-destruído. Daqueles que você vai ter de fazer muita coisa além de pintar: quebrar banheiro, colocar piso novo, refazer parte hidráulica e elétrica são algumas dessas "modernizações" que terão de ser feitas. E aí, já sabe. Obra é outra saga que nunca termina nas duas semanas prometidas pelo pedreiro.

Por falar em obra, há também o corretor-engenheiro-mestre-de-obras. Fala de tintas especiais que tapeiam possíveis irregularidades da parede, em artimanhas para disfarçar aquele piso que precisa ser mudado e outras engenhocas que dão aquela maquilada no imóvel logo de cara sem precisar gastar muito. O sujeito ainda está fazendo contas e verificando se vale a pena comprar e vem o corretor sugerir obras! E ora, se é tão barato, por que raios não sugeriu ao atual proprietário em vez de mostrar um imóvel com defeitos visíveis?

Sem esquecer o corretor-detonador. É aquele cara que faz questão de jogar sua pretensão de sair do aluguel no limbo. Diz que é muito difícil arranjar imóvel na faixa de preço que você almeja, que conseguir apartamento bom está complicado ou que o seu financiamento e o banco que você usa são um problema. Tenta te empurrar um apartamento de 10 m² por estar "mais dentro da sua realidade" ou então sugere um imóvel na zona rural de Sepetiba, dizendo que lá tem condução fácil.

Estes foram alguns dos tipos que enfrentamos no último e ensolarado domingo. É claro que é cansativo, mas não deixa de ser divertido ver diferentes tipos de imóveis e trocar ideia com os mais diferentes corretores. E sem a ilusão de que encontrar o apê ideal é algo rápido, este deverá ser o primeiro de muitos posts sobre o tema. A saga só começou.

Se você tem algum "causo" ou história interessante sobre procura por imóveis e sobre corretores, relate-a no espaço de comentários!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Vamos passar a sacolinha

A cena é clássica. O sujeito vai à farmácia, compra uma cartela com quatro comprimidos para dor de cabeça e se dirige ao caixa. Imediatamente, a funcionária do estabelecimento saca uma sacola plástica e coloca o remédio lá dentro. O assunto das sacolas plásticas, obviamente, perdeu a ênfase na mídia de quase seis meses atrás. Pontuo em seis meses porque em julho do ano passado entrou em vigor no Rio de Janeiro a lei das sacolas*. O burburinho em torno do tema, contudo, se esvaziou.

A prática no início deste post é só para dimensionar o uso desenfreado desta praga chamada sacola plástica, que vai além dos supermercados. Certos estabelecimentos "distribuem" mais sacos proporcionalmente que as grandes redes varejistas. Drogarias, papelarias e até lojas de material de construção costumam enfiar objetos miúdos no primeiro plástico que aparece. Não estou taxando esses ramos de comércio como os vilões do meio ambiente, tampouco minimizando a responsabilidade dos supermercados – até porque estudos de 2008 revelam que eles respondiam pela distribuição de 1 bilhão de sacos plásticos por mês só no Brasil.

Mas é uma questão cultural e de hábito. Não vamos eliminar o saco plástico de uma hora para a outra das nossas vidas. Sou do tempo em que o mercado tinha um embrulhador em cada caixa e eles colocavam as nossas compras em sacolas de papelão. Sem dúvida, o plástico ofereceu praticidade desde então. Mas também se transformou em uma ameaça a mais ao meio ambiente em tempos de aquecimento global, rios e mares poluídos, qualidade do ar abaixo do recomendável em grandes cidades e mudanças climáticas drásticas.

É difícil abrir mão da praticidade do plástico. Confesso que esqueço muitas vezes as sacolas de pano ou as chamadas ecobags em casa. Mas um saco é dispensável se a compra se resumir a uma caixa de leite longa vida e dois sabonetes. Uma cartela ou mesmo uma caixa de comprimidos podem caber no bolso da calça ou na bolsa. Um par de canetas e uma borracha também. As sacolinhas que acompanham essas miudezas não são práticas e dificilmente utilizadas depois.

E a prova que é possível mudar culturas e hábitos é a campanha "Saco é um Saco", do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Segundo o próprio ministério, a partir de estimativas de três grandes redes varejistas do país, a ação evitou o consumo de 5 bilhões de sacolas plásticas nos últimos 18 meses. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) até anunciou metas de redução de 30% das sacolas plásticas nos estabelecimentos em todo o País até 2013, e de 40% até 2014, o que pode significar menos 14 bilhões de unidades de sacos plásticos.

Felizmente, há vários defensores, organizações, publicações, sites e blogs que não deixam o assunto esmorecer. E não ficarei aqui com lição de moral para falar os males do plástico ao meio ambiente, pois acredito que muita gente já saiba de cor que o plástico pode levar quase quatro séculos para se decompor, que entope bueiros, que suja rios etc etc etc. Mas indico boas leituras de especialistas no assunto, como o blog Atitude Sustentável (http://atitudesustentavel.uol.com.br/). Tem também o Planeta Sustentável, com uma interessante lista com 10 motivos para não usar sacolas plásticas: http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/redacao/10-motivos-recusar-sacolinhas-258377_post.shtml. E no http://portaldovoluntario.org.br/documents/0000/0233/cartaz_saco_dicas.pdf do Governo Federal, tem dicas interessantes sobre como substituir o uso dos sacos plásticos, inclusive para acomodar o lixo seco.

* A Lei das Sacolas Plásticas no Rio prevê descontos para quem optar por não usar sacolas plásticas. A cada cinco itens, o cliente tem direito a um desconto de R$ 0,03 do valor total da compra caso não utilize a sacola plástica. E quem devolver 50 sacolas plásticas terá direito a um quilo de arroz ou um quilo de feijão. Os estabelecimentos que não se cumprirem as normas poderão receber multas de R$ 200 a R$ 20 mil.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Libertem os desaparecidos

Chega a ser caricato como o assunto dos "desaparecidos" da ditadura é encarado de forma espinhosa por setores da sociedade brasileira, em especial pelos militares. Passados mais de 45 anos do Golpe Militar de 1964, todos ficam cheios de dedos para abordar o tema. Os generais querem passar logo uma borracha nesse assunto e as lideranças civis agem com cautela para não incomodarem os militares. Mas incomodar a quem, afinal? Os torturadores e assassinos se valem justamente desse escudo que as Forças Armadas indiretamente criaram, ao rotular qualquer pesquisa ou divulgação sobre os "desaparecidos" como "revanchismo". Não se trata de revanchismo, vingança, troco ou qualquer outra palavra que queira insinuar represália. É uma página da história do país que tem de ser escrita corretamente para que qualquer sentimento de revanche se esvaia. Além de ser um direito inquestionável dos familiares dos mortos, a verdade é a única via para tentar vencer os fantasmas do passado.

É a forma de fechar as tais cicatrizes abertas do passado. Recorro a este termo porque assisti recentemente a "Domingo Sangrento". O telefilme retrata o dia em que as tropas britânicas abriram fogo e promoveram uma verdadeira execução de manifestantes pelos direitos civis na Irlanda do Norte, em 1972 – foram 14 mortos. O mais interessante é que a produção foi idealizada justamente por dois britânicos, entre eles o diretor Paul Greengrass. Interessante porque os britânicos por anos tentaram e se esforçaram para esquecer do assunto. Mas os irlandeses sempre o lembram. A iniciativa dos britânicos não deixa de ser um passo exemplar para fechar as tais cicatrizes. Mais emblemático ainda, porém, foi, em junho do ano passado, o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, após novo relatório sobre o Domingo Sangrento, admitir o erro do governo e pedir desculpas publicamente pelo incidente.

Uma postura elogiável do chefe de estado e que deveria ser exemplar. Reconhecer o erro e pedir desculpas vai trazer os 14 mortos de Belfast de volta? Claro que não. Mas é um gesto que pode evitar episódios iguais no futuro, que pode mostrar a importância da tolerância e que pode minimizar a angústia dos familiares das vítimas. Já que seguimos tantos exemplos de nações desenvolvidas... Reportagem da "Folha", inclusive, diz que a nova presidente Dilma Roussef deve pedir desculpas pelas atrocidades cometidas durante a repressão militar. O que não deixa de ser inusitado, já que Dilma foi uma das que sofreu na pele a repressão. Mas é preciso ir além. Abrir os arquivos e contar a verdade, como pede a ação da seção Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ): "Campanha pela Memória e pela Verdade".

Enquanto isso, o general José Elito de Carvalho Siqueira, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), levou um puxão de orelha da presidente após afirmar recentemente que é preciso esquecer o passado e olhar para a frente ao abordar o tema dos "desaparecidos". Só que com as cicatrizes abertas no passado, não é possível seguir em frente general. A história (dos outros países) já nos ensinou isso.

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